Intolerância à lactose e alergia à proteína do leite de vaca são doenças diferentes, apesar de ambas estarem relacionadas a ingestão de leite.
A lactose trata-se de um açúcar, próprio do leite, assim como a frutose presente nas frutas. Os açúcares precisam ser “quebrados” para serem digeridos e, quando isso não ocorre, ele permanece no intestino e “puxa água” dos vasos, aumentando o volume líquido no seu interior além de fermentar e produzir gases. Por isso, os sintomas mais comuns desse processo são os gases (flatulências) e diarreia líquida, que cessa após cessar a ingesta de leite. Essas ocorrências não representam risco de vida, mas se não forem tratadas podem resultar em diarreias importantes e levar a quadro de desidratação.
Esta ocorre quando o organismo entende que a proteína do leite é estranha e pode causar prejuízo. Neste caso, o organismo lança mão de defesas próprias, que geram sintomas, e que muitas vezes podem evoluir com gravidade e manifestar-se das mais diferentes formas e em diferentes órgãos e sistemas. Trata-se de uma reação de hipersensibilidade do sistema imune, ou seja o organismo torna-se sensível à esta proteína. Quando estas proteínas são ingeridas, o sistema imunológico luta contra elas como se fossem microorganismos agressores, assim como bactérias ou vírus, podendo gerar sintomas gastrointestinais, respiratórios, cardiovascular e de pele, entre os mais comuns.
É uma doença mais frequente em crianças e atingindo 2% destas nos primeiros anos de vida. Não se sabe ao certo por que alguns indivíduos desenvolvem este tipo de alergia, mas sabe-se que há uma predisposição genética, no qual filhos de alérgicos têm maior chance de desenvolver este tipo de alergia, assim como qualquer outro tipo de alergia.
Devemos tomar cuidado, visto que atualmente tem aumentado os diagnósticos de APLV e por ter alguns sintomas semelhantes à intolerância à lactose, pode haver equívocos na constatação da doença. Nestes casos, o recomendado é consultar um especialista em alergia, que é o profissional qualificado para realizar o diagnóstico e conduzir o tratamento. Lembro que não existem tratamentos milagrosos como muitas vezes a mídia mostra, mas há sim cura e esta depende de um diagnóstico precoce e exclusão desta proteína da dieta do paciente o quanto antes.
Alguns sintomas comuns que podem ocorrer nas alergias e sugerem que devem ser investigados pelo alergologista:
Respiratórios:
– Coriza, obstrução nasal, tosse, chiado e falta de ar.
* Dificilmente as alergias alimentares se manifestam exclusivamente com sintomas respiratórios. Geralmente há algo mais associado. Quando exclusivamente respiratórios deve-se pensar também em alergia a aeroalérgenos (ácaros, pólens, fungos, epitélios de animais etc…)
Gastrointestinais:
– Diarreia frequente ou constipação, com ou sem sangue, regurgitação frequente que muitas vezes não melhora com medicações para refluxo, dificuldade para engolir, cólicas e falta de apetite
Pele e mucosas:
– Manchas na pele podem aparecer de forma rápida como placas, mais conhecidas como urticárias, ou pele grossa e descamativa com lesões em dobras. Estas se manifestam com bastante coceira, podendo ocorrer inchaço de mucosas como pálpebras, lábios, genitais e em casos mais graves até edema de glote.
Gerais:
– Baixo ganho ou perda de peso, irritabilidade, anafilaxia (reação alérgica grave com potencial fatal).
Este artigo teve como objetivo esclarecer algumas dúvidas frequentes que temos em nossos consultórios. É importante ouvir sempre a opinião de um especialista e lembro que muitas doenças, assim como outros tipos de alergia, também podem se manifestar com os sintomas relacionados neste artigo e não obrigatoriamente tratar-se de alergia ao leite.
Veja também a entrevista para o Mundo+ Criança, onde esclareço algumas duvidas frequentes sobre alergias, em especial a alergia à proteína do leite de vaca APLV
Um abraço,
Dr. Lúcio Colamarino Cury
Médico Pediatra, especialista em alergia e imunologia.
Diretor da Clínica Infantil Santa Isabella.